A igreja Kiruna Kyrka, considerada um dos edifícios mais emblemáticos da Suécia, foi transferida de endereço nesta semana em uma operação inédita. O templo de madeira vermelha, inaugurado em 1912, percorreu cinco quilômetros sobre rodas para ser reinstalado em uma nova área da cidade de Kiruna, no norte do país.
A mudança foi organizada pela mineradora estatal LKAB e acompanhada por milhares de moradores, turistas e pelo rei Carlos XVI Gustavo. O processo levou dois dias e foi transmitido ao vivo pela televisão sueca.
A realocação tornou-se necessária devido ao avanço da maior mina subterrânea de ferro do mundo, que provoca rachaduras no solo e ameaça engolir parte do antigo centro da cidade. Desde os anos 2000, a região passa por um processo de transferência urbana, que prevê a mudança de cerca de 6 mil pessoas e 3 mil casas para uma área segura.
O transporte da estrutura de 672 toneladas mobilizou engenheiros e exigiu adaptações prévias, como a ampliação de ruas, retirada de postes, semáforos e até de uma ponte. A igreja foi erguida sobre vigas de aço e colocada em plataformas motorizadas, deslocando-se a uma velocidade média de meio quilômetro por hora.
O templo manteve em seu interior peças de valor artístico, como o altar pintado pelo príncipe Eugen e um órgão com mais de dois mil tubos, que foram estabilizados para o trajeto.
Projetada por Gustaf Wickman, a Kiruna Kyrka é uma das maiores construções de madeira da Suécia e já foi eleita, em 2001, o “edifício mais bonito do país construído antes de 1950”.
Apesar do feito técnico e do reconhecimento histórico, a mudança também despertou críticas. Entre a população sámi, povo indígena do norte da Escandinávia, há preocupação com o impacto da mineração sobre rotas de criação de renas e a preservação de tradições culturais. Para lideranças locais, a expansão da mina representa ameaça ao modo de vida da comunidade.