Nos últimos 10 anos, o número de matrículas em cursos técnicos de nível médio no Rio Grande do Sul aumentou 26,5%, passando de 116,5 mil em 2014 para 147,5 mil em 2024. Os dados, divulgados pelo Censo Escolar do Ministério da Educação, indicam que cerca de um terço dos estudantes do Ensino Médio no Estado opta por alguma modalidade de formação técnica.
Apesar do crescimento expressivo na última década, o levantamento mostra uma leve retração entre 2023 e 2024, com queda de 153,9 mil para 147,5 mil matrículas. Ainda assim, o ensino técnico representa 6,6% das 2,2 milhões de matrículas em todos os níveis de ensino no Estado. Dentre os formatos ofertados, destacam-se os cursos concomitantes (62,4 mil matrículas), integrados ao Ensino Médio (34,1 mil) e os subsequentes, voltados a quem já concluiu os estudos regulares (42,2 mil).
Especialistas apontam que a formação técnica tem papel decisivo não apenas na qualificação de jovens para o mercado de trabalho, mas também como vetor de desenvolvimento social e econômico, especialmente nas regiões onde há escassez de mão de obra qualificada. Segundo o professor Olmiro Schaeffer, da Universidade de Passo Fundo (UPF), o ensino técnico contribui para a estruturação dos arranjos produtivos locais e deve ser fortalecido com políticas públicas e investimentos.
Avanços e desafios
Embora o Plano Nacional de Educação previsse triplicar as matrículas em cursos técnicos até 2024, o Estado ainda está distante da meta. Seriam necessárias ao menos 100 mil novas vagas para atender metade dos alunos do Ensino Médio com formação técnica. Para isso, iniciativas como o novo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), que prevê a criação de novos institutos federais, e o programa “Juros por Educação”, que estimula investimentos com base na renegociação de dívidas estaduais, são vistos como estratégias fundamentais.
No Rio Grande do Sul, o governo estadual também implementou ações afirmativas no setor, como a reserva de 30% das vagas em cursos técnicos para candidatos pretos, pardos, indígenas e pessoas com deficiência. Atualmente, um processo seletivo está em andamento com 8,8 mil vagas distribuídas entre 116 instituições da rede estadual.
Conexão com o mercado e inovação
A ampliação dos cursos também responde às necessidades de um mercado em transformação. Na UPF, por exemplo, foi implantado o curso Técnico em Biocombustíveis, voltado à crescente demanda do setor energético sustentável.
Escolas como a do Sesi em Gravataí destacam-se por iniciativas inovadoras. Lá, estudantes do curso técnico em Automação Industrial desenvolveram um protótipo de asfalto ecológico feito com resíduos de construção e demolição, promovendo uma alternativa sustentável à pavimentação urbana. Projetos como esse são parte da metodologia adotada pelo Sesi e pelo Senai, que apostam na integração entre educação e indústria.
Para Susana Kakuta, diretora-geral do Sesi-RS, Senai-RS e IEL-RS, a qualificação técnica é essencial para a competitividade industrial do Estado. Com cerca de 53 mil indústrias, o Rio Grande do Sul enfrenta desafios relacionados à produtividade e à inovação — aspectos que dependem diretamente da formação profissional dos trabalhadores.
Institutos federais e áreas em destaque
Atualmente, o Estado conta com 42 unidades de institutos federais em funcionamento, com mais cinco em construção. Essas instituições são reconhecidas por oferecer cursos alinhados às demandas regionais, com bom desempenho em avaliações externas e forte inserção de seus egressos no mercado de trabalho.
Segundo o pró-reitor de Ensino do IFRS, Fábio Azambuja Marçal, os cursos mais procurados incluem áreas como informática e meio ambiente. Já no setor privado, o professor Carlos Milioli, do Sindicato do Ensino Privado (Sinepe/RS), destaca os eixos de saúde (como enfermagem, radiologia, farmácia), gestão e negócios (logística, RH, contabilidade) e tecnologia da informação como os que concentram o maior número de matrículas.
O cenário aponta que, mesmo com desafios a superar, o ensino técnico segue como uma alternativa eficaz para impulsionar a empregabilidade dos jovens e fortalecer a economia regional gaúcha.